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Renata de Melo Rosa

Por que o Haiti vive uma crise permanente?



Desde 1793, quando uma revolução de trabalhadores escravizados sacudiu o lado oeste da ilha de Hispaniola, no Caribe, a revolução permanente se instalou no Haiti. O que queremos dizer com o conceito de revolução permanente no século XVIII? Significa dizer que a valentia e a explosão geral de milhares de pessoas contra o racismo, a desumanização, a desterritorialização, a deculturação, o colonialismo e a escravidão não consegue consolidar nenhum processo revolucionário.

 

Todas as estratégias que envolvem em mover na direção contrária todas as forças que movam as estruturas de opressão acima citadas requerem um tempo de maturação, de empenho, de disciplina e de determinação que não se esgotam em única geração. A resolução dos conflitos internos entre as próprias lideranças revolucionárias haitianas, os inúmeros desvios dos propósitos revolucionários, o enfrentamento com outras potências emergentes, como os Estados Unidos no século XX e a dificuldade extrema em se conectar com as correntes do capitalismo para a geração de riqueza e de crescimento econômico, de um lado, e a impossibilidade de trabalhar em nível nacional, qualquer projeto socialista colocou o Haiti em uma situação de crise permanente que exige que o conceito de revolução permanente se atualize a cada ciclo de tentativa de renovação na política haitiana.

 

Não se trata de desorganização política ou de caos, mas de um processo político pedagógico profundo de maturação dos tempos das lideranças políticos em cenários extremamente difíceis como aqueles de interferência externa como os que vive o Haiti de forma permanente.

 

Compreender o Haiti é compreender a própria dinâmica dos ciclos de tensão entre o capitalismo e socialismo, o racismo e o antirracismo, o colonialismo e os processos em curso de descolonização e, por fim, o imperialismo e as governanças comunitárias orientadas por gênero e pela religiosidade profunda. Portanto, O estado de crise permanente perpassa todas as conformações políticas que não se submetem a nenhuma liderança e vivem uma profunda ideia de liberdade e igualdade como princípios radicais. Será que deveríamos condenar esse estado?


Renata de Melo Rosa, Diretora do Instituto Maria Quitéria e Cofundadora da Iniciativa Brasil Haiti

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